"Ninguém se importa." Essa não é uma frase de algum díalogo do filme, foi um pensamennto instantâneo que tive enquanto assistia a Jurado Nº2 (2024), o que tudo indica ser o último projeto do ator, roteirista e diretor americano, aclamadíssimo na indústria audiovisual, Clint Eastwood. Lançado aqui no Brasil na plataforma MAX, no último dia 20 de dezembro.
Outra frase bastante interessante, e essa, já foi dita no filme, é: "Acho que a tempestade já passou.". Jurado Nº2 é um excelente filme de tribunal, e particularmente gosto muito de filmes de tribunais, que, como o próprio título sugere, é sobre o julgamento de um homem acusado de ser o responsável pela morte da namorada, e que está prestes a ser julgado por um júri popular. E na composição desse júri, está Justin Kemp (Nicholas Hoult), um pai de família que está esperando um filho junto com sua esposa, cheio de conflitos, e que gostaria de não estar ali. E o dilema principal do filme, pode ser ilustrado perfeitamente pela frase acima.
Logo em um dos trailers lançados pela Warner, você já se sabe que Kemp descobre em um determinado momento do julgamento, que ele pode ser o responsável pela morte daquel mulher, e não o companheiro dela, que é duramente massacrado pela acusação, pois já tem um passado um tanto suspeito. Kemp acreditava que no mesmo dia em que a vítima morreu, ele teria atropelado um cervo, e nunca passou em sua mente, a possibilidade em ter atropelado uma pessoa. Daí em diante, aquele julgamento transcede as telas, e da a oportunidade para que o espectador também faça parte daquele júri, e busque entender todos os lados, e julgar o que é justiça; ou o que é certo e errado. A história se desencolve em pouos cenários, sem muito trabalho de fotografia, focando apenas na trama, em vários outros dilemas necessários se desenrolam, através de outros personagens. Principalmente os outros cidadãos que formam aqule júri. Nada na obra de Clint é indispensável, e tudo foi produzido com uma narrativa sinples e objetiva, trazendo o valor do filme para as reflexões que desperta no especator.
A PARTIR DAQUI, CONTÉM SPOILERS
O ano já está acabando, e Jurado Nº2 entra no meu TOP 5 de melhores filmes do ano, e se for indicado a alguma categoria no Oscar de 2025, com certeza poderá ser um dos nomes fortes para roteiro original e direção. E aqui, volto para as frases descritas acima: "Ninguém se importa." e "Acho que a tempestade já passou.", que definem muito bem as reflexões que o filme traz.
Durante as várias reuniões que aquele grupo de jurados fazem para chegar a uma decisão única, sobre a responsabilidade criminal ou não de James, interpretado por Gabriel Basso, percebe-se que todos ali, de uma certa forma não se importam, e não entendem a importância de que tem em suas mãos, que é a responsabilidade de decidir o destino de uma outra pessoa. James, um homem suspeito de matar a sua companheira, e que já tem um passado um tanto delicado por ter participado de uma "gang", é um ser humano como quaquer um daqueles que estão ali, como alguém que também ama. Algo que depois é notável que exisitia de fato senimentos genúinos por sua namorada, agora morta. E que também era amado, como um ente muito querido por uma avó, que está presente em seu julgamento, e teme pela condenação do seu neto. Entre um debate e outro feito pelos participantes do júri, em um primeiro mometo, todos entendem que James é culpado. Menos o próprio Kemp, obviamente, que além de já ter quase certeza que ele pode ser o responsável por aquele crime, tenta fazer com que seus colegas tenha uma outra interpretação da situação, sem falar a verdade que somente ele, e o coordenador do grupo de AA que ele frequenta, sabem.
Acontece que cada um ali, não está sabendo "julgar" com a imparcialidade com a qual se comprometeram. Tem o pai que está julgando um possível femicídio, porque tem uma filha, e pensa que poderia ter acontecido o mesmo com ela. Tem o responsável por uma especie de ONG, que perdeu uma pessoa próxima para a gang da qual o acusado já fez parte. E tem uma mãe de família, que simplesmente só quer chegar a uma decisão, porque quer chegar em casa, e cuidar dos seus três filhos. Com poucas excessões, como uma senhora que parece ser a única que tem bom senso ali, pois até mesmo a porta-voz do grupo só quer passar o tempo e se ocupar de algo, para que seu esposo tenha orgulho dela, o júri se mostra quase que completamete incompetente, para julgar um cidadão com fortes indícios de ter cometido aquele crime, já que não há provas contra o réu, e há apenas uma testemunha ocular, que se trata de um homem idoso que diz ter identificado o suspeito, em uma noite escura, e de muita chuva.
Jurado Nº2 nos traz um retrato claro de com funciona a nossa sociedade, e as nossas relações com os nossos dilemas, e em como conduzimos situações que definem o nosso presente, e o nosso futuro. O comportamento dos jurados em condenarem aquele homem pelas suas visões limitadas, afetadas por suas emoções e seus próprios problemas, é um retrato claro de como quase em sua totalidade, todos nós de algum modo fazemos isso diariamente em nossas vidas, e principalmente nos momentos onde temos que tomar decisões importantes.
No processo de se chegar em uma conclusão comum à todos, de se o réu é culpado ou inocente, Kemp tenta de todo modo fazer com que os seus parceiros o julgue como inocente, levando muitos a terem antipatia por ele, e alguns até desconfiarem de seu aparente nervosismo e preocupação com aquele julgamento, quando uma grande parte dos que estão ali, só querem que tudo aquilo termine logo, e que possam voltar pra casa para seus afazeres. E isso é o setimento de culpa, misturado com uma dose de bom senso do verdadeiro culpado por aquele crime que está sendo julgado, numa tentativa de consertar as coisas.
Mas há um limite para esse homem, de até onde ele vai lidar com a verdade, para que um inocente não seja condenado pelo crime que ele cometeu, ao mesmo tempo que ele possa evitar que aquele acidente não estrague a vida dele que já foi muito ruim durante um período e que era alcoólatra, e que agora teria a chance de ser feliz com a esposa e o filho que estava para nascer, depois de ter outros filhos gêmeos levados a óbito.
Jurado Nº2 se encaminha para o final, mostrando que todos ali, de um certo modo tem seus próprios objetivos e interesses. E que a grande maioria não se importa, ou talvez se importe até um certo ponto, desde que nada daquilo possa interferir em suas próprias vidas. Um roteiro incrível sobre o nosso egoísmo, o que torna o ser humano o animal mais "inteligente", mas tabém, mais perigoso para os que vivem ao seu lado, e principalmente para si mesmo.
Infelizmente, para o personagem do réu o fim não é o fim que a grande maioria dos espectadores torciam, mas um fim que marca esse que pode ser o último filme de Clint, como um filme que traz uma reflexão muito importante da nossa sociedade, do nosso sistema jurídico, e de nós mesmos. Sobre as decisões que tomamos, muitas delas "obrigados", para que no fim a gente tente livrar pelo menos a nossa própria pele. Ainda que não tenhamos intenção de prejudicar o outro, mas que acabamos por fazer, porque em alguns casos a vida está apontando uma arma para a nossa cabeça, e a mesma nos dar um único caminho de salvação, escolher que a arma seja apontada para a cabeça de quem está ao nosso lado. E em uma das cenas finais, quando Kemp vai levar flores ao túmulo de sua vítima, o jardineiro do cemitério faz um comentário que reflete sobre como está a mente do verdadeiro culpado naquele momento: "Acho que a tempestade já passou."
No fim, quando tomamos as decisões que precisamos tomar, e consequimos aliviar as nossas tensões e nossos problemas, é essa a verdadeira sensação que temos pelo preço que pagamos de nossas escolhas. A sensação em que achamos que a tempestade pode ter passado.
Jurado Nº2 está disponível na plataforma de streaming MAX, e estreou aqui no Brasil diretamente para o digital.
Texto de Rômulo, escritor e diretor de cinema
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